quarta-feira, 13 de abril de 2011
O Macaco Velho, a Coruja e os Burros
Era uma vez uma Floresta. Daquelas cheia de trilhas, lagos, rios, árvores e bichos de todas as espécies que passavam o tempo nadando, voando, correndo e , como manda a lei da floresta, perseguindo e devorando uns aos outros. Cansado de pular de galho em galho fugindo de seus predadores, o Macaco Velho teve uma idéia. Resolveu organizar uma competição de nado, vôo e corrida aberta a todos os bichos da floresta. Seria uma prova longa e dura, e que com certeza deixaria todos os participantes cansados demais para, por exemplo, perseguir e tentar devorar um velho macaco.
Para levar a idéia adiante buscou ajuda de sua amiga Coruja, cuja reputação de sábia era bem conhecida por todos. Depois de ouvir atentamente ao Macaco, ela sugeriu que a prova fosse dividida em duas categorias: individual e revezamento. Afinal, nem todos os bichos sabiam nadar e voar; a maioria corria apenas, e pouquíssimos sabiam fazer as três coisas. "Brilhante idéia" - falou o macaco, que imediatamente convocou os papagaios para espalhar a notícia.
Em pouco tempo centenas se inscreveram. Os patos eram a maioria na categoria individual, enquanto que nos revezamentos equipes fortíssimas se formaram. Especialistas em natação junto com especialistas em vôo e corrida (uma das equipes era formada por Boto, Falcão e Guepardo) tornavam as apostas no provável vencedor extremamente arriscadas.
No dia da largada do grande evento, já batizado de "Troféu Pau Brasil", o Macaco Velho lembrou a todos que o vácuo não seria permitido, e informou também que haveriam árvores e poças de hidratação na parte da corrida, e que o tráfego de manadas seria impedido durante a realização do evento. E antes quer alguém pudesse perguntar alguma coisa, pediu ao Leão (que por sinal fazia parte de um revezamento com a Piranha e o Gavião) que desse um rugido à guisa de sinal de largada. Afinal, segundo a coruja, "nada melhor que o rugido do leão para fazer todo mundo sair em disparada".
Horas depois, cruzava a linha de chegada em primeiro lugar geral o próprio Leão. Alegações posteriores de que ele havia ameaçado devorar o Guepardo quando esse tentou ultrapassá-lo foram rebatidas em definitivo com um único e poderoso rugido. Na categoria individual venceu, logicamente, um pato. Uma semana depois, a floresta reuniu-se novamente na linha de chegada e aplaudiu de pé a valentia dos últimos a chegar - dona lesma e senhor tartaruga.
Mas nem só alegrias houveram. Alguns animais sentiram-se prejudicados e estavam, literalmente, uma fera:
- quase fui pisoteado por uma manada de elefantes que cruzou a pista - desabafou o sapo;
- faltou hidratação nas últimas árvores - grunhiu o porco-do-mato;
- os malditos patos faziam vácuo o tempo todo na natação e no vôo - disse a girafa;
- o São Bernardo que devia prestar socorro não estava lá quando precisei dele - reclamou a hiena;
Ao saber dos comentários, a Coruja aconselhou o Macaco Velho a dar explicações. Ele escreveu um memorando e pediu que os Pica-Paus os pendurassem em todas as árvores da região. Entre outros, o memorando dizia:
- a manada de Elefantes atravessou o percurso porque pisoteou o Esquilo, que estava lá para barrá-los;
- faltou hidratação porque o Camelo, trazido de fora para um revezamento, bebeu toda a água disponível;
- os Patos fizeram vácuo porque está na genética deles; fazem isso a milhões de anos, e hábitos formados são difíceis de quebrar;
- o São Bernardo, que trouxemos de fora para ajudar, não aguentou o calor e desmaiou;
Concluiu afirmando que na próxima prova tudo seria resolvido.
Muitas primaveras se passaram nessa floresta desde então. O Macaco continua organizando suas provas, e os participantes continuam esperando que na próxima prova tudo será resolvido. Tornaram-se especialistas em reclamar e não agir. O interessante é que o Macaco não promete mais nada. Ele já tem inclusive um tronco de árvore oco inteiro com cartas de reclamação, que ele lê atentamente e depois arquiva. Tornou-se especialista em ouvir e não agir.
Curioso foi o que aconteceu em uma outra Floresta não longe dali. A Coruja, que não conseguiu adaptar-se ao jeito do Macaco Velho trabalhar, resolveu mudar-se para lá e realizar seus próprios eventos. Como o Macaco, ela tinha boas intenções, e sempre que algo não dava certo durante o evento ela escutava as reclamações e prometia mudanças. E, pra falar a verdade, realmente tentava com afinco. Mas as reclamações sempre persistiam. Ocorreu que um dia, cansados de tanto reclamar e não ser atendidos, os Burros resolveram tomar uma atitude diferente. Convocaram os participantes das provas e propuseram que formassem uma Aliança para defender seus interesses. Aprovada por unanimidade, a Aliança foi encabeçada por Predadores ("só assim a coruja vai nos ouvir") e tinha membros ativos tanto nas copas das árvores como nas galerias de formigueiros.
Antes que fosse realizada a próxima corrida - um evento de longa distância chamado AnimIron - o Leão, o Chacal e a Cascavel foram procurar a Coruja. O recado foi sucinto:
- Se der m**** na prova, na próxima não vem ninguém".
Como sempre, deu m**** - dessa vez, alguém da organização (eu não fui!!) esqueceu de pedir permissão para os Jacarés que eram donos do lago e eles devoraram uns vinte Patos. Como sempre a coruja foi apologética - "as famílias dos patos serão indenizadas". O que ela não esperava é que no evento seguinte realmente ninguém aparecesse. E foi exatamente o que aconteceu. A Aliança mobilizou-se e convocou seus membros para um boicote animal. E assim, no dia do tal evento, não havia praticamente ninguém - só meia dúzia de gatos, que não sabiam do boicote porque nem eram da região. Apavorada, a Coruja foi voando ver o Leão:
- Mas Leão, eu faço o melhor que posso;
Ao que o Leão retrucou:
- O seu melhor não é bom o suficiente para nós.
Depois disso, outras primaveras se passaram em ambas as florestas. Na primeira, o macaco, mais velho do que nunca, continua fazendo suas provas. E os bichos-atletas, embora responsáveis por seus próprios infortúnios, continuam apontando as patas para o Macaco. E vivem todos conformados para sempre - uns com suas limitações, outros com a falta de respeito com que são tratados.
Já na segunda, a Coruja, sábia que é, empenhou-se em atender às demandas do grupo criado pelos Burros. E com o tempo, prosperou ainda mais, pois mais atletas sentiram-se confiantes em participar de suas provas. E os Burros, que dos próprios não tinham nada, com o tempo compreenderam que vez por outra incidentes podem ocorrer, e que esses incidentes estão além do poder de controle da coruja. E vivem todos contentes - uns por terem ido além do que julgavam ser suas limitações, outros por serem tratados com o devido respeito.
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Essa semana eu soube que em uma selva não muito distante, um certo tipo de animal bípede - algo como um macaco sem pelos - vem enfrentando já faz algum tempo problemas similares aos dos bichos-atletas.
Como esses bípedes são chamados oficialmente de Sapiens, imagino que o final para eles será feliz. A menos que não aprendam uma lição que até os Burros foram capazes de ensinar.
Postado por Max
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Amiga que texto cansei pra ler...rss...mas muito bom, é o que acontece com nós O POVO...os governantes promete, promete, mexe, remexe e continua na mesma...mas um dia isto muda...esperamos que pra melhor, só temos que fazer nossa parte....rss
ResponderExcluirSeu blog ta ótimo!! Parabéns...
Bjaum